segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Depois da avalanche de lama, onda de assaltos impactou Barra Longa

Banco do Brasil vai fechar sua agência em Barra Longa no próximo dia 20 de novembro. Também vítima de assalto, Correios ameaça sair da cidade.
Foto: David da Silva – 18.out.2017
David da Silva

Número de habitantes em queda, e números da violência em alta. Esta a equação incômoda que torna ainda mais incerto o futuro próximo de Barra Longa, município da Zona da Mata no Estado de Minas Gerais. Se os índices do IBGE e os da Segurança Pública seguem rotas opostas, para os jovens do lugar o caminho é um só: ir embora.
A avalanche de lama com rejeitos de minérios que a Samarco despejou em Barra Longa em novembro de 2015, trouxe em seu rastro um crescimento no número de assaltos naquele rincão. Na zona rural de Barra Longa, onde mora 62% da população, a vida segue bucólica. Mas, na área urbana de apenas 2 mil habitantes a violência provocou a saída da sua única agência bancária. No próximo dia 20 o Banco do Brasil fecha as portas em Barra Longa.
Um população flutuante, com cerca de 1.000 operários da Samarco que trabalham nas obras de recuperação, esquentou o comércio local. Os ladrões vão atrás desta novidade.

Sustos e lembranças

Durante a última semana de outubro fiquei em Barra Longa na “Pousada da Selma”. É a dona da pousada quem conta: “Aqui já tivemos agências do Banco Nacional, do banco Minas Caixa e do Banco do Brasil. Todas as pessoas de Acaiaca e de Diogo de Vasconcelos [municípios vizinhos] vinham movimentar suas contas aqui em Barra Longa. Os outros bancos já foram embora, e agora vamos perder o Banco do Brasil”, lamenta Selma Sampaio de Freitas, de 78 anos.
O primeiro susto do pós-lama veio em 5 de maio de 2016, exatamente seis meses depois que a cidade acordou apavorada com a montanha de lixo da Samarco em sua praça central. Os caixas eletrônicos do Banco do Brasil foram explodidos. Na ocasião os ladrões não conseguiram levar o dinheiro, pois a explosão foi insuficiente para arrebentar o cofre.
Pelo que veremos a seguir, tudo leva a crer que os bandidos juraram vingança.

O mês de julho de 2017 colocou Barra Longa definitivamente no mapa da insegurança mineira. No dia 6 daquele mês, a agência do Correios foi assaltada às 8h da manhã.
Dois dias depois, na madrugada de 8 de julho dona Selma Freitas estranhou a movimentação na praça da Matriz. “Eram muitas motos, uma quantidade enorme de motos. Até que uma caminhonete parou e desceu um homem com fuzil. Eu vi uma moça correndo na direção oposta dos ladrões, mas nunca fiquei sabendo quem era ela”, relata. A quadrilha fez reféns os boêmios de um boteco acordado até àquela hora, 3h30 da madrugada, bem em frente à agência do Banco do Brasil.
Consumado o assalto, a pacata Barra Longa virou cena de cinema. “Nunca vi uma coisa daquela”, recorda Selma Freitas. “Os ladrões ficaram aqui na praça Matriz em frente da igreja, empinando as motos, comemorando. Depois foram para outra pracinha mais abaixo,  girando com motos e carros, atirando para cima”. Antes de ir embora com a grana, os ladrões se divertiram dando tiros em transformadores elétricos, deixando a cidade às escuras.
No dia 14 daquele mesmo mês de julho um bando encapuzado roubou um supermercado local às 8h da manhã, levando grande soma em dinheiro e mercadorias.

She’s living home

A população de Barra Longa diminui ano a ano. Se em 2010 o Censo do IBGE apontou 7.553 habitantes, em 2016 o número de moradores caiu para 6.143. Neste ano de 2017, a estimativa reduziu para 5.624 pessoas – destas, apenas 38% moram na região urbana.

A falta de ensino de curso superior e empregos mais rentáveis, provoca evasão da juventude barra-longuense. “Quando atingem a idade de trabalhar, eles [os jovens] são obrigados a abandonar as famílias para buscar emprego em outras cidades. É um problema antigo”, se conforma o prefeito Elísio Barreto (PMDB).

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