bar & lanches taboão: Enchente invade teatro e transforma bairro em palco

O povo e as enchentes: resistência e reação
Foto: Babi Soares

De tanto verem seu espaço cultural invadido pelas águas das chuvas, artistas da Companhia de Teatro Encena foram à forra. Puxaram a enchente para dentro da cena. E converteram o bairro onde o teatro se localiza em um grande palco.

A peça Pirou Jussara? Pendurar a Vovó no Banheiro!? começa de fora para dentro do teatro. Os atores chegam da rua com a plateia à sua espera no interior da casa de espetáculos. O público mal se dá conta quando a trama já está em andamento. É como se fosse envolvido pela chegada traiçoeira dos transbordamentos. Com a diferença de o flagelo líquido das enchentes anuais ser trocado por sólidas gargalhadas nas apresentações de sábados à noite.

Instalada desde 1997 em um imóvel no Jardim Jussara, zona alagadiça no limite entre Taboão da Serra e São Paulo, a Cia. Encena já foi vítima várias vezes das enchentes. Não é à toa que o bairro é berço do movimento popular Grupo de Combate às Enchentes dos córregos Pirajuçara e Poá.

Da lama à cena

Em junho de 2011 fui procurado pelas atrizes Flávia D’Álima e Thânia Rocha. Encarregadas da produção geral do espetáculo, elas queriam entrevistar moradores sacrificados todos os anos pelas enchentes da região.

Gilberto Amêndola

Os relatos foram entregues ao dramaturgo Gilberto Amêndola. Repórter profissional (Jornal da Tarde) o autor pinçou destas entrevistas fragmentos daquelas vidas encharcadas.

O projeto “Da lama à cena, janeiros da minha vida” tem o apoio do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Além da consistente pesquisa de campo, Pirou Jussara? tem base teórica enraizada nas concepções do naturalista inglês Charles Darwin e do filósofo francês Jean Jacques Rosseau. A peça reflete a capacidade humana de se adaptar e resistir aos desafios da Natureza (Darwin) ao mesmo tempo em que aprende coletivamente a exigir seus direitos (Rosseau).

A religiosidade brasileira e o gosto pelo jornalismo sensacionalista permeia toda a tragicomédia.