sábado, 19 de novembro de 2011

Teatro Clariô será incendiado na noite deste sábado

Washington Gabriel e Naruna Costa
Foto: Mariana Rafael
Em cartaz desde o dia 21 de maio de 2011, a peça Urubu come carniça e voa! será finalmente assistida pelo seu próprio autor hoje à noite.
Não que o poeta Miró tenha escrito para o teatro. O espetáculo foi construído pelo diretor Mário Pazini a partir de fragmentos dos textos crônicos com que o poeta pernambucano retrata sua vida. A dramaturgia é coletiva dos atores do Grupo Clariô de Teatro.
Martinha Soares e Mário Pazini - Foto: Guma
Apesar da pouca idade, Urubu come carniça e voa! já correu o trecho. Se apresentou nos lugares mais improváveis. Tanto assim que foi indicado como melhor espetáculo em espaço não convencional ao Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro. É considerada uma das melhores peças teatrais do primeiro semestre de 2011. O elenco vigoroso também foi cotado entre os melhores da dramaturgia paulista no período.
Apesar de o Grupo Clariô ser de Taboão da Serra, e composto com maioria de atores da cidade, o espetáculo tem zero apoio do poder público local. Foi montado com recursos do Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo (veja a ficha técnica no final da postagem).

Pelas beiradas da vida
João Flávio Cordeiro, 50 anos, é mundialmente conhecido como poeta Miró da Muribeca. Bairro do subúrbio de Recife (PE). Criado ao redor do antigo lixão da Muribeca, que empresta o nome ao conjunto habitacional onde Miró mora.
A partir desta ótica de homem pobre, preto, periférico, Miró usa sua poesia como reação à violência que o circunda. Mas seus poemas têm nada de desespero, sequer tristeza. Perguntado sobre sua ideologia política, Miró da Muribeca lança rápido: “Sou alegrista”.
Naloana Lima - Foto: Guma
Não conheço poeta tão cativante como Miró da Muribeca para expressar em viva voz seus escritos. Com abundância de uso do próprio corpo. Não o considero como gente, apenas. Ele é um fenômeno geográfico. Avassalador, envolvente feito uma pororoca.
Sua presença será incendiária na noite de hoje no Teatro Clariô.

Poesia constante e instantânea
Conheci Miró da Muribeca por intermédio do também poeta e repórter Marco Pezão Iadoccico.
Tive a felicidade de ser o primeiro a ler uma das poesias que Miró escreveu durante recente temporada aqui na nossa região. Cheguei ao Bar do Neto para lavar a poeira da garganta. Ancorado no balcão Miró estendeu um papel: “David, leia isto. Acabei de escrever”. Era um poema inspirado na Estrada do Campo Limpo que costeia Taboão da Serra e também leva ao Embu das Artes na direção de Itapecerica da Serra.
É o próprio Miró da Muribeca que a declama na porta do bar onde o poema foi concebido:
Maria Zéfinha

Seu pai no volante do caminhão.
E Maria Zéfinha do lado.
Encantada...
olhando as bancas de revistas da Estrada do Campo Limpo.
Queria tanto saber ler... entender o que se passa
na cabeça das outras pessoas...
‘Seo’ Amaro, o pai, dizia:
- É tudo besteira, minha filha! Todo mundo é igual. Seja aqui ou em Pequim.
- Pai!!! Onde é Pequim?
- Não sei. Meu caminhão só conhece Taboão da Serra, Embu das Artes e Recife, onde você nasceu.
- Pai!!! Pra que lado fica o Recife?
- Filha!!! Você só tem 18 anos para fazer tantas perguntas...
Pararam para comer em Itapecerica da Serra.
E até hoje ‘seo’  Amaro vai nas bancas de revistas pra saber notícias de Zéfinha.
Urubu come carniça e voa!
Ingressso: Grátis
Hoje, 19 de novembro – às 21h30
ESPAÇO CLARIÔ:
R. Sta. Luzia, 96 - Jd. Sta Luzia
Taboão da Serra | SP
(próximo ao Morro do Cristo e Hospital Family)

Classificação Indicativa: 12 anos

FICHA TÉCNICA:
Escritos crônicos: Miró de Muribeca. Direção: Mário Pazini. Atores/criadores: Alexandre Souza, Diego Avelino, Martinha Soares, Naloana Lima e Naruna Costa. Ator convidado: Washington Gabriel. Dramaturgia: Grupo Clariô de Teatro. Assessoria dramatúrgica: Will Damas. Cenário: Alexandre Souza (João) e Mário Pazini. Figurinos e adereços: Martinha Soares e Naruna Costa. Iluminação: Will Damas
TRILHA DA PEÇA:
Composição: Di Ganzá e Naruna Costa. Interpretação: Orquestra de Caboclos
Músicos: Di Ganzá (violibeca), Adriana Mello (flauta),  Luís Vitor Maia (contrabaixo) 

Um comentário:

Ariel disse...

Junto à amigos fui conhecer o teatro Clariô.Nos surgiu uma dúvida: Por que será que a secretaria de cultura não apóia esse teatro? Ou será que sabemos o por quê?

Inevitavelmente, após assistir a peça, a "República de Platão" nos vem à cabeça:

Um povo ignorante é facilmente manipulado.